
Escatologia covid 19
Constituição Pastoral Gaudium et Spes (GS), do Concílio Vaticano II, afirmou que “é dever da Igreja investigar a todo momento os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado, em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas” (GS 4).
A emergência da Covid-19 impactou a forma de ler a realidade, de viver o cotidiano e de esperar o amanhã. Esse “sinal do nosso tempo” precisa ser interpretado à luz do Evangelho, especialmente no que se refere à fé e à esperança cristãs. Isso implica compromisso do cristão com o presente histórico e atenção ao futuro prometido em Cristo, como recorda a Carta Encíclica Spe Salvi (SS): “A fé em Cristo nunca se limitou a olhar só para trás nem só para o alto, mas olhou sempre também para a frente, para a hora da justiça que o Senhor repetidas vezes preanunciara” (SS 41).
Nesse sentido, uma abordagem sobre as possibilidades do futuro pós-pandemia deverá tanto contemplar o horizonte do Eterno, em que a vida não conhece fim, quanto convocar à responsabilidade sobre o momento atual, revisando a relação que se estabelece com a criação. Tudo está interligado, pois a fé cristã supõe uma integralidade até o fim da história, quando, em Cristo, tudo será recapitulado, o que existe no céu e na terra (Ef 1,10).
O cristão celebra o que crê e crê celebrando o cumprimento das promessas de Cristo. O Advento é, por excelência, o tempo litúrgico que mais evidencia a dimensão escatológica da Igreja. Enquanto se prepara a celebração da vinda de Cristo na carne, no Natal, igualmente se espera sua futura vinda gloriosa na parusia:
Naquele tremendo e glorioso dia, passará o mundo presente e surgirá novo céu e nova terra. Agora e em todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu Reino (Prefácio do Advento IA, grifo nosso).